Peço desculpa por voltar ao tema, mas parece que anda muita gente fora do seu juizo normal.
Na Itália os responsáveis de alguns jardins infantis proibem as canções de Natal para não ofender os não-cristãos; na Inglaterra algumas empresas não colocaram decorações de Natal para não ofender os não-cristãos; no mesmo país, uma Câmara Municipal proibiu o termo Christmas (por óbvias conotações com Cristo) e trocou-o por Winterval (intervalo de Inverno), pelos mesmos motivos; em Mijas, Málaga, Espanha, uma professora deitou fora um presépio feito pelos alunos na aula de Religião, porque uma escola pública, na sua opinião, tem de ser laica (como se ser laico fosse isto). Sorte não ter deitado fora a professora de Religião e os alunos pois sendo a escola laica, também eles não deveriam ter lá lugar.
Mas a lista não acaba aqui. Ainda em Espanha, em Saragoça, proibe-se a colocação de decorações de Natal porque a escola não tinha espaço (!!!) e, mais uma vez, para respeitar os não-cristãos.
Também em Portugal são conhecidos alguns episódios curiosos: numa escola EB1 a professora, interferindo numa área que apenas aos pais diz respeito, disse aos alunos para pararem com as parvoíces do Menino Jesus e do Pai Natal, desfazendo as ilusões dos petizes sobre a noite de Natal; num infantário da região centro a educadora ensinou aos meninos músicas de Natal com letras alteradas, pois a escola laica não permite canções religiosas, tendo ensinado algumas pérolas do tipo "O padre Peixoto / comeu muito / e deu um grande arroto." Ora aqui está um exemplo de louvar, não só continuou a meter a religião (um padre) como deu uma lição de boa educação às crianças.
Mas, o mais curioso estava reservado para a SIC Notícias que transmitiu uma entrevista a um defensor da laicidade (não sei se pertencia a Associação República e Laicidade) onde este se fartou de explicar as "virtudes" das suas ideias. Assim, nenhum símbolo religioso deve estar na esfera pública pois colide com a liberdade dos outros.
Sempre os outros.
Começo a pensar que os outros são apenas eles, ideia reforçada pelo espanto demonstrado pelos representantes de outras religiões que já se pronunciaram publicamente sobre o assunto. Chegou ao ponto de dizer que já ninguém ia à Missa do Galo ou do dia de Natal e que as empresas que proibiram referências ao Natal tinham visto a sua produtividade aumentar (!!!), pois todos trabalhavam com mais alegria (deduzo que por não se sentirem ofendidos!).
Sem decorações e prendas de Natal e com a produtividade a aumentar aí vão disparar os lucros da maldita classe exploradora. Como é bom ser-se coerente....
A defesa de que a religião se deve confinar à esfera privada é falsa por vários motivos: em primeiro lugar porque mostrar a fé em público não ofende ninguém; em segundo, porque ao proibir-se isso, não tarda nada outras proibições se seguirão, atingindo as outras religiões (embora claramente saibamos que o objectivo é o Cristianismo e especialmente a Igreja Católica) e, mais tarde, outros grupos não religiosos.
Eu optei por expor o presépio em fente a casa (ver antepenúltimo post) e ainda não recebi protestos, pelo contrário, tem sido elogiado, até por amigos de esquerda, para que não haja dúvidas.
Mas, como sempre aprendi, Deus escreve direito por linhas tortas, pois o referido senhor chamava-se Moisés Espírito Santo o que, dado o assunto, não podia ser um nome mais adequado à problemática.
Já o imagino, no dia 27, a dirigir-se a uma Conservatória do Registo Civil, com um pedido solicitando a troca do nome, receando que o mesmo possa ser ofensivo para os não crentes, ou para os seguidores de outras religiões que não as três monoteístas que reconhecem Moisés. Do Espírio Santo já nem falo...
Convenhamos que há nomes e nomes e que, neste caso, a situação não deixa de ter piada.
Quanto a mim, vou aproveitar para passear, enquanto posso, nos feriados, pois palpita-me que o Engenheiro Sócrates, na sua ânsia de aumentar a produtividade, vai aproveitar a deixa para suprimir uns tanto feriados.
O Natal, a Sexta-feira Santa, o dia de Todos os Santos, a Imaculada Conceição devem ter os dias contados, pois imagino que ofendam muitas pessoas.
O 25 de Abril, o dia do Trabalhador, o 1º Dezembro seguir-se-ão, pois nem estes conseguem, infelizmente, aprovação total, havendo quem não se reveja nestes festejos. Já agora, um dia destes acabam-se as manifestações do 1º de Maio, pois sendo o dia dos trabalhadores, neste país de faz de conta, deve haver muita gente que se sente ofendida com a ideia absurda de ter de trabalhar. Cuidem-se.
Penso que, agora sim, está a chegar o mundo que George Orwell, anteviu na sua obra "1984", em que um Big Brother vigiava toda a nossa vida, estabelecendo as normas, o que era certo e errado, etc.
Não haja dúvidas que há certos tiques políticos que nunca se perdem e, mais tarde ou mais cedo, acabam sempre por vir ao cimo.
Que o próximo ano vos traga tudo de bom.
Prometo, no próximo post, terminar a volta que andava a dar pelo interior norte.