segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Mangualde

Senhora do Castelo Senhora do Castelo
Pastéis de feijão do Patronato


No regresso da Guarda proponho-vos uma paragem em Mangualde.
Esta cidade do distrito de Viseu atravessou-se no meu caminho há 24 anos, pois foi aí que comecei a dar aulas, com um ordenado (só tinha meio horário) que não dava para as viagens, qualquer coisa à volta de 52€. Outros tempos.Para além dos inúmeros locais para visitar no concelho, lembro-me das pessoas que aí conheci e dos Pastéis de Feijão do Patronato.
Mangualde, que noutros tempos se chamava Azurara da Beira ou simplesmente Azurara, é uma terra antiquíssima que se situa na margem esquerda do Rio Dão, perto de Viseu.
Apresenta vestígios da presença do homem desde o neolítico (Antas da Cunha Baixa e Padrões), Idade do Bronze / Ferro (Castro do Bom Sucesso), passando pela época de domínio romano (Citânia da Raposeira, Troços de Vias Romanas, Marcos Miliários, Aras e Ruinas de Villae).
De longa tradição e história, o Castelo que outrora existia, terá sido tomado por um chefe mouro- Zurara.
Foi depois o Castelo conquistado aos Mouros por Fernando Magno, Rei de Leão em 1058.
Os Condes D. Henrique e Dona Teresa concederam-lhe foral em 1102.
O Castelo acabou por ser demolido e, no seu lugar, foi construído um Santuário -Nossa Senhora do Castelo.
Mangualde reserva em si mil segredos que só quem o visitar e desvendar é que fica a conhecer, os antigos monumentos, como a Ermida da Senhora do Castelo, localizada no cimo do monte, o Palácio dos Condes de Anadia, Casa dos Condes de Mangualde, Real Mosteiro de Maceira Dão, Ermida da Senhora de Cervães, Igreja da Misericórdia, Casa de Almeidinha, entre outros.
Para além de todos estes lugares que merecem visita atenta, destaque ainda para o Patronato, sito nas instalações da Igraja Paroquial, onde se pode encontrar alguma da melhor pastelaria que se produz neste país à beira mar plantado.
De destacar os famosos Pastéis de Feijão que são do melhor que já comi em toda a minha vida. Há dois anos, durante uma formação em Salamanca, levei uma caixa com umas dúzias deles e posso assegurar-vos que mais facilmente se conquistariam os espanhóis pelo estômago do que pela força das armas.
Assim houvesse pastéis disponíveis noutros tempos.
Mais um bom motivo para visitar Mangualde...

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Guarda - a Catedral




A Sé Catedral da Guarda foi erguida no seguimento do pedido de D. Sancho I ao Papa Inocêncio III, para transferir a diocese da Egitânia para a nova cidade da Guarda, como vimos no post anterior.
Da construção original, de estilo românico, foram encontrados alguns vestígios que apontam para um edifício de planta muito simples.
No século XIV, concluiu-se uma segunda catedral, cuja construção fora iniciada por D. Sancho II, no local onde hoje se situa a Igreja da Misericórdia. Esta Catedral foi destruída aquando da reforma das muralhas levada a cabo por D. Fernando, por se encontrar fora das mesmas.
A actual Sé da Guarda remonta aos finais do século XIV, (reinado de João I, primeiro rei da 2ª dinastia – reinou entre 1385 e 1433), pois D. Fernando falhara a promessa de erguer novo templo (Como vemos as actuais promessas dos nossos governantes e candidatos a governantes durante as campanhas eleitorais nem originais são, limitando-se a copiar o passado!). A construção deve-se à iniciativa do bispo Vasco de Lamego, partidário da casa de Avis durante a crise dinástica.
As obras arrastaram-se lentamente (mais uma tradição lusitana!) e só no reinado de D. João III seriam concluídas (com toda a certeza depois de várias derrapagens orçamentais!), já em pleno século XVI, sendo por isso um dos monumentos portugueses dos últimos tempos do gótico, já com muitas influências do manuelino.
A história da catedral teve um período importante para a sua conservação, na viragem para o século XIX: em 1898 coube ao arquitecto Rosendo Carvalheira o restauro do edifício, executando aqui um dos mais importantes projectos de restauro revivalista, pelo que é notável o estado de conservação da catedral.
Mais um local para justificar uma paragem prolongada na Guarda.

Já agora, por aqui também se encontram Sardinhas Doces.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Guarda



A cidade da Guarda situa-se na zona Norte da Serra da Estrela, sendo a altitude máxima de 1056 m atingida na Torre de Menagem do Castelo. É, por isso, a cidade situada a maior altitude em Portugal.
Desde há muito tempo que a zona é habitada havendo vestígios do 3º milénio antes de Cristo.
No período medieval, a Guarda faziaparte de uma malha de fortificações, sendo uma das mais importantes. Deste conjunto faziam parte outros castelos que teriam como função a defesa da fronteira com Castela e Leão, e da porta natural de travessia da Serra da Estrela. Do castelo da Guarda é possível um contacto visual com outras fortificações, como o Castro do Jarmelo (com ocupação medieval), Celorico da Beira, Trancoso, entre outros.
Foi a posição de destaque da cidade face ao território envolvente e compreendendo a importância de uma cidade poderosa no local em questão, que levou D. Sancho I a atribuir foral à Guarda, a 27 de Novembro de 1199, visando o seu desenvolvimento e prosperidade.
A Guada foi, assim, fundada com o propósito de servir de centro administrativo de comércio, organização e defesa da fronteira da Beira contra os Reinos Ibéricos que ficavam próximos: primeiro Reino de Leão, depois Castela e finalmente Espanha.
Foi este propósito que lhe deu o nome de Cidade da Guarda.
Em 1250 é criada a Diocese da Guarda, transferida de Idanha, a antiga e importante cidade romana da Egitânia, que foi largamente abandonada no tempo das invasões e lutas contra os mouros, já que a sua situação em plena fronteira e localização difícil de defender a expunham a raides, quer de mouros quer de cristãos.
A cidade da Guarda foi fundada em posição muito mais fácil de defender, o que lhe permitiria tirar à Idanha a posição de centro principal da Beira Interior.
As cidades portuguesas apresentavam, e a Guarda não é excepção, no século XII, várias características comuns: muralhas de forma triangular ou trapezoidal, localizadas ao longo de uma colina, sobre um rio, com distinção entre a cidade alta, a alcáçova e a almedina* (a cidade baixa.
Um dos marcos de referência das cidades medievais são as igrejas do interior do perímetro muralhado, que terão certamente influenciado a organização espacial do núcleo habitacional, levando a uma hierarquização das ruas.
Em 1260 são referidas as seguintes igrejas no espaço intra-muralhas: S. Vicente, Santa Maria da Vitória ou do Mercado, Santa Maria Madalena (próxima da Sé, a Este) e S. Tiago (a leste da Sé). No interior das muralhas definiam-se vários bairros, sendo os mais conhecidos S. Vicente, a judiaria (ambos na mesma paróquia) e Santa Maria do Mercado.
Por tudo isto garanto-vos que a Guarda vale bem uma visita, quer pela parte antiga, quer pela pujança que apresenta a cidade nova.

*Em árabe Almedina significa a Cidade).

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Sara Tavares - Bom Feeling

Hoje não me apetecia escrever um texto e, por isso, decidi partilhar convosco (juro que não tenho conta ni Millenium BCP) uma música da Sara Tavares, Bom Feeling (Live on Jools Holland).
As potencialidades da sua voz são imensas.
Bom feeling para todos vós e façam-me o favor de ser FELIZES.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Dia de S. Valentim

As comemoração do dia 14 como dia de S. Valentim e dos namorados tem várias explicações, umas de tradição cristã (enquanto isso for permitido por não ser considerado ofensivo para alguém!) e outras de tradição romana e pagã.
A Igreja Católica tem 3 santos com o nome de S. Valentim.
O que interessa para esta estória, terá vivido pelo século III, em Roma, tendo morrido como mártir no ano 270.
Segundo a lenda, S. Valentim era um sacerdote cristão contemporâneo do Imperador Cláudio II (que quer dizer coxo), que, por querer constituir um exército poderoso, proibiu o casamento aos jovens romanos, pois havia poucos a quererem alistar-se para se poderem casar.
Perante este facto Valentim ter-se-á revoltado e terá casado em segredo muitos jovens. Descoberto, acabou preso, torturado e dacapitado, no dia 14 de Fevererio de 270.
Mas, como quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto, também esta lenda foi sendo aumentada com alguns pormenores.
Assim, S. Valentim, enquanto estava preso, seria visitado pela filha do seu carcereiro, com quem mantinha longas conversas e de quem se tornou amigo. No dia em que foi decapitado, ter-lhe-á deixado um bilhete com a inscrição "Do teu Valentim", dando assim início à tradição da troca de postais entre namorados.
Quanto à origem pagã da tradição, deve referir-se que, a 15 de Fevereiro, celebravam os romanos, o festival Lupecalla, coincidente, no calendário romano, com o início da Primavera.
Na véspera desse dia, as raparigas romanas colocavam um pedaço de tecido com o seu nome num recipiente. Os rapazes retiravam então um dos pedaços de pano, sendo que a rapariga aí identificada seria a sua namorada durante as celebrações, podendo o "namoro" prolongar-se por um ano.
Claro que, com a cristianização da sociedade romana, a Festa da Pimavera deu lugar às comemorações em honra de S. Valentim, como aconteceu, aliás, com muitas outras festas que foram cristianizadas.
Actualmente, numa sociedade cada vez mais consumista, à semelhança do que aconteceu com o Natal, também esta festa, até há poucos anos ignorada em Porugal, se está a transformar em mais um ocasião de negócio, onde o que interessa é consumir.

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Peña de Francia - A Virgem Negra


A Peña de Francia é uma montanha com 1723 metros de altitude, situada no sul da Província de Salamanca. É uma das montanhas mais altas da Sierra de Francia e que já falámos em posts anteriores.
A Peña é conhecida pela imagem da Virgem Negra e pelo Santuário situados no seu cume e que, no Inverno, é um local praticamente inacessível devido à neve.
No Verão é grande a afluência de turistas, sendo que grande parte vai aí em peregrinação. Para além do Santuário, merecem ainda destaque o hotel e um convento aí existentes.
Chegado ao cimo da Peña tem muito para visitar e admirar: a igreja de traça medieval com a Virgem Morena (Negra) e outros Santos, onde se costuma ouvir música gregoriana; o hospício, defronte da fachada do templo; o convento do século XV, há pouco tempo recuperado. Qualquer um destes locais merece visita demorada, até como forma de desfrutar o silêncio que aí predomina.
Ainda no exterior, merece visita o enorme e original Relógio de Sol, sobre o qual se poderá debruçar e tapar a sombra do arame que indica a hora do dia.
Depois delicie-se com a paisagem arrebatadora, com a imensidão que a vista abraca, com o voo das aves de rapina, com o silêncio contagiante e o ar puro que deve aproveitar para encher os pulmões.

A Virgem Negra

É na Paris Medieval que encontramos a origem da nossa história de hoje. Aí, a Virgem Maria apareceu a um jovem estudante de nome Simon Vela, dizendo-lhe para percorrer o mundo, a fim de encontrar uma imagem sua que estaria numa penha.
Simon percorreu os mais altos picos da Europa até chegar a Salamanca, onde alguém lhe falou de um penhasco situado a cerca de 80 quilómetros da cidade, conhecido, entre outras coisas, por aí se fabricar carvão.
Para aí partiu o jovem e aí encontrou, no cimo da montanha, numa gruta, a imagem que o levara a percorrer todo o continente europeu: uma Virgem Negra, com um menino ao colo igualmente negro, vestida com um manto branco imaculado.
Resolveu, então erguer aí uma pequena cabana onde entronizou a Virgem que passou a ser adorada pelas pessoas das redondezas.
Surgia assim, a 1723 metros de altitude na Peña de Francia, o mais elevado santuário mariano do mundo.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Sierra de Francia

Sierra de Francia
Santiago na Sierra de Francia
Pátio do Mosteiro

Perto de Alberca fica a Sierra de Francia que vale bem a pena subir.

A estrada, para quem não está habituado à montanha, é um pouco complicada, mas garanto-vos que já a subi (e desci) num autocarro de turismo.

Não mentirei se vos disser que nos encontramos perante um dos lugares mais afamados e de maior tradição turística de toda a província de Salamanca.

Um meio natural montanhoso, cheio de vales cobertos de florestas e percorridos por inúmeras correntes fluviais, favorece a elevada qualidade do meio ambiente da região, que lhe valeu a designação de Espaço Natural das Batuecas - Serra de França (Sierra de Francia).

As aldeias que a rodeiam apresentam uma valiosa arquitectura popular, servindo de singular cenário para festas, costumes e tradições ancestrais de grande riqueza e plasticidade.

A mesa nutre-se de excelentes guisados e assados, e o artesanato diversifica-se para completar um harmónico conjunto que, sem dúvida, irá surpreender quem por aqui passa.
Prometo dar-vos conta disso no próximo post.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

La Alberca - Salmodia



Em La Alberca é possível encontrar algumas tradições bem curiosas, embora por vezes haja que procurá-las ou esperar por elas.
Ainda hoje, diariamente ao escurecer, continua a ter lugar um rital de defuntos muito curioso. Uma mulher toca uma campainha em todas as esquinas da ladeia entoando uma salmodia pelas almas do Purgatório:

«Fieles cristianos
acordémonos de las benditas almas del purgatório
con un padrenuestro y un avemaría
por el amor de Dios»

Dá mais três toques e continua a entoar salmodia :

«Otro padrenuestro y otro avemaría
por los que están en pecado mortal
para que su Divina Majestad
los saque de tan miserable estado
»

A seguir toca mais três vezes a campainha e continua o caminho, sem deixar de rezar, até percorrer todo o percurso pela aldeia.
É costume seguirem-na algumas mulheres voluntárias que a acompanham nas suas orações e cânticos.
Eis mais um motivo de interesse para a visita.
Já agora, se o tempo o permitir, é imperdível tomar uma caña e degustar umas tapas na espectacular Plaza Mayor.
Pena é que em Portugal, em aldeias como, por exemplo, Freixo de Numão (Vila Nova de Foz Côa), em plena zona do Douro, com uma espectacular praça central e uma bela Igreja, não haja nada, nem sequer um café para tomar algo.
De qualquer maneira fica a sugestão, pois a aldeia é um encanto, com um belo Palácio Barroco, onde funciona um simpático museu e muitas ruínas romanas nos arredores.
Assim vai o turismo em Portugal.