quinta-feira, 29 de março de 2007

Largo da Portagem



Atravessada a ponte de Santa Clara no sentido Norte/sul chegamos ao Largo da Portagem.
O nome deste largo (Portagem) deve-se ao facto de, em tempos idos, aí se cobrarem os impostos sobre as mercadorias que chegavam à cidade, vindas do sul.
Na Portagem ficava o Pelourinho, símbolo do poder municipal, hoje na chamada Praça Velha e a cadeia da cidade que, mais tarde, foi mudada para os antigos celeiros do Mosteiro de Santa Cruz (actual esquadra da PSP).
Embora sempre tenha sido conhecido como Portagem, nome que perdura até hoje, chegou a ostentar outros nomes como Largo Príncipe D. Carlos e Largo Miguel Bombarda.
Desde 1911, apresenta, no centro, uma estátua de um conhecido conimbricense, Joaquim António de Aguiar, responsável pelo decreto-lei que extinguiu as Ordens Religiosas em Portugal, pelo que é popularmente conhecido como Mata Frades.
Algumas curiosidades:
  • Na primeira fotografia, com mais de 100 anos, não existia a estátua, o piso era em terra e é visível o prédio branco, do lado esquerdo do outro que tem um toldo, que há cerca de 3 meses ruiu.
  • Na 2ª fotografia é visível a estátua de Joaquim António de Aguiar, o Mata-frades, representado a assinar o decreto de extinção das Ordens religiosas.
  • Na 3 fotografia vê-se novamente a estátua e, à esquerda, o belíssimo edifício do Banco de Portugal.
  • A 4ªfoto foi tirada cerca de 1 minuto depois do prédio referido na primeira curiosidade ter ruído, pois eu estava a passar na Portagem, nessa altura.

Aqui perto uma sugestão para comer: O Zé Manel, a cerca de 50 metros, para quem gosta de cozinha portuguesa e lugares castiços. Garanto-vos que, tendo lá comido todos os dias, durante cerca de 22 anos, é uma experiência inesquecível.

Sugestões: Barrigunhas na brasa com arroz de feijão, Bacalhau doidinho, Cogumelos aporcalhados, etc, etc, etc. É melhor ficar por aqui porque já me está a crescer água na boca.

Até já. Vou estar ausente uns dias. Ate lá, façam-me o favor de ser felizes.

terça-feira, 27 de março de 2007

Ponte Rainha Santa




A 6 de Janeiro de 2000, o ministro Jorge Coelho consignava a construção da obra da Ponte Europa (nome da ponte por essa altura) afirmando, nos discursos da praxe, que o prazo previsto para a conclusão dobra era de 23 meses (700 dias) e o custo de 7 milhões de contos (35 milhões de euros).
Como sabemos, Einstein descobriu a relatividade e Portugal serve de exemplo claro para provar que a teoria é verdadeira. Não só o tempo é relativo quando se trata de obras públicas, pois os 23 meses (700 dias, que exactidão! Só falta mesmo os minutos!) transformaram-se quase no dobro, pois o tabuleiro construído a partir da margem esquerda não se encontrava, como era suposto, com o vindo da margem direita. O raciocínio devia estar correcto mas os cálculos pelos vistos não! Pormenores!... Como é de calcular (com raciocínio bem elaborado) os custos dispararam, como também é normal em obras portuguesas.
E, já agora, como também é normal, a culpa morreu solteira.
Isto faz parte do no fado e da nossa história pois, ao longo dos tempos, sempre assim aconteceu e alguns casos até se tornaram famosos como a Igreja de Santa Engrácia (actual Panteão Nacional) e as Capelas Imperfeitas da Batalha, famosas por nunca terem sido acabadas.
Mas, muitos euros e muitos meses depois, a ponte lá foi inaugurada tendo, antes disso, mudado de nome para Ponte Rainha Santa, que tem muito mais a ver com Coimbra.
É uma belíssima ponte, como podemos constatar na imagem, e dela tem-se um magnífica vista sobre Coimbra.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Praia Fluvial de Coimbra


(Clique nas fotografias para aumentar)

Em 2 de Agosto de 1935 foi inaugurada aquela que foi a primeira praia fluvial portuguesa, construída por mão humana: a praia fluvial do Mondego, em Coimbra.

Custo total da obra: 60 contos (300 Euros). Não sei se houve derrapagens orçamentais, mas estes números, lidos a esta distância, têm piada.

A praia nasceu com espaço de convívio e recreio, numa altura em que a cidade perdia parte dos seus habitantes, pois os estudantes tinham regressado a casa para as férias grandes e uma parte importante dos seus habitantes não tinha posses económicas para ir a banhos, para a Figueira da Foz.

À boa maneira portuguesa logo surgiram críticas à sua localização acusando-a de inquinar a agua.

Aquando da inauguração houve festa rija, com salva de 21 tiros, banda de música do Colégio dos Órfãos (S. Jerónimo) e sessão solene com discursos e tudo, como não podia deixar de ser.

Para a execução da praia, retirou-se grande quantidade de areia, foi colocada estacaria para protecção e retenção das águas, ainda visível quando as comportas do açude abrem e baixa o nível das águas (a jusante da actual ponte de Santa Clara).

Nas margens e areal (em certos anos criava-se uma ilha de areia) abriram-se bares, esplanadas, restaurantes, alugavam-se toldos e chapéus de sol e ainda barcos de recreio. Havia ainda uma casa para mudar de roupa e uma bilheteira onde se comprava o bilheteque permitia o acesso a um passadiço de acesso à zona de banhos.

Em 1935, ano da inauguração, o encerramento aconteceu em Outubro.

Nos anos seguintes a praia foi ganhando imponência, até que, em 1947, já não foi erguida pois os custos haviam-se tornado exorbitantes.

É pena pois a actual praia de Torres do Mondego, embora num sítio bonito (pena os incêndios) não tem a beleza e o charme da presente nas fotos.


Algumas curiosidades:

  • A 1ª fotografia é tirada da zona do actual Praça da Canção - Choupalinho (margem esquerda). Na parte superior direita ainda é visível o Observatório Astronómico que existia no Pateo das Escolas e que foi deitado abaixo na década de 40, por ordem de Salazar, aquando da construção da cidade universitária.
  • A 2ª fotografia foi tirada do actual governo civil.
  • O número de barcos a remos que podeiam ser alugados chegou aos 21.
  • Era também erguida todos os anos uma piscina com 33 metros de comprimento que sobreviveu à praia fluvial, chegando aos anos 60.
  • A ilha e o passadiço são bem visíveis nas duas últimas fotografias.

terça-feira, 20 de março de 2007

As pontes de madeira do Choupal.

A Mata do Choupal foi criada com o propósito de oferecer resistência às cheias do Mondego e atenuar o assoreamento provocado pelo Basófias. Simultaneamente, cumpria a função de "repartir as cheias", dispersando a água através de canais que "cortam" o espaço verde na transversal - os chamados valeiros.
Em 1791, o Eng. Padre Estevão Cabral liderou o projecto que permitiu que hoje ali se encontre uma vasta área de Plátanos, Faias, Loureiros e Eucaliptos e Choupos (aos quais deve o seu nome), que albergam a maior colónia nidificante de milhafres da Europa.
O projecto incluiu a construção de um novo leito para o rio que assim foi desviado do chamado rio velho, contactando com ele pelos tais canais.
A fotografias mostra-nos um das pontes existentes para atravessar um desses canais. Não sei se é a primeira, para quem entra no Choupal pelo lado da Ponte-Açude, num valeiro que tinha um lago permanente (os outros costumavam estar secos no Verão) conhecido entre nós como Frigorífico, devido à água fria.
Tinha ainda a particularidade de ter uma nascente onde costumávamos beber água. Bons tempos!
Lembro-me de aí ter tomado, uma vez, banho num dia 28 de Fevereiro. Recordo-me de ter saído da água mais depressa do que entrei. Coisas da juventude...
Hoje, o Choupal atrai muita gente devido ao desporto que aí se pode praticar e ao prazer de poder desfrutar de um amplo espaço verde.
Conseguiu resistir, apesar de tudo, ao rude golpe que sofreu com a construção do Açude-Ponte e do canal de rega, que matou mais de 5 mil árvores.
Esta mortandade deve-se, não só, ao abate de árvoes para a construção do referido canal, como aos vários milhares de árvores que morreram devido ao abaixamento do nível das águas a jusante do Açude-Ponte.

sábado, 17 de março de 2007

Pontes de Coimbra (As pontes de madeira)




Quando era miúdo e ia ao Choupal, lembro-me bem, no Verão, de junto à 2ª casa do guarda, haver uma ponte de madeira que atravessava o rio Mondego, o Basófias, pois nessa altura do ano era mais a areia do que a água que levava.

Penso que essa ponte, conhecida como a do Pama, é a que aparece na 1ª fotografia. sendo também visível uma barca. Essa ponte ia ter à zona da Bencanta, onde havia um barracão que funcionava como bar.

Estas estruturas eram construídas apenas para o Verão, unindo as duas margens, sendo desmontadas no final do mesmo, pois não aguentariam as cheias do rio. De vez em quando lá acontecia que, havendo cheias mais cedo, lá ia a ponte por água abaixo.

As segunda e terceira fotografias representam outra ponte de igual estrutura, a montante da primeira, vendo-se um conjunto de pessoas a atravessá-la. Esta era conhecida como a ponte do Moreno. Ficava a montante da actual ponte do caminho-de-ferro. A ponte do Moreno ligava a zona da Estação Nova (armazéns) ao Almegue (margem esquerda do Mondego), terra famosa pelo seu poço, onde se pescava achigãs, carpas e enguias e que os locais garantiam não ter fundo. Aquando da construção da Ponte-Açude foi o dito poço aterrado, verificando-se que a crença não tinha fundamento.

Entre estas duas, havia ainda um conhecida como a do Borges, nome de uma propriedade junto ao Choupal que produzia excelente fruta. Daquela que ainda sabia a fruta, não sei se me entendem?

Outras havia noutras zonas do rio, tornando-se uma delas famosa (na zona de Pé de Cão) pelo facto de, numa época em que o rio já apresentava cheias (noite de 31 de Dezembro de 1978), ter sido arrastada por ele e, com ela, cinco caçadores que a atravessavam, tendo falecido quatro deles.
O curioso é que o atravessamento destas pontes implicava o pagamento de uma "portagem" que rondava os 0$50 (cinquenta ccntavos).
A 4ª foto mostra-nos uma nora semelhante à que está no canal de rega que corre junto ao Choupal, que era montada na margem esquerda do rio, e que permitia elevar a água para regar os campos. Esta estrutura também era desmontada no Inverno, pois não era capaz de resistir à fúria da água.

A silhueta inconfundível da nossa cidade lá está a marcar presença em duas das fotografias.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Pontes de Coimbra - A ponte do comboio (Choupal)



Ainda sou do tempo em que passavam comboios a vapor na Estação Velha (Coimbra B). A minha avó materna morava no Bairro Armando Cortez (Alto da Estação Velha) e eu passava aí umas temporadas nas férias e alguns fins-de-semana.
Muito gostava eu de ver os comboios, desde a da janela da sua sala de jantar e de jogar futebol num parque acimentado, junto ao sítio onde estavam paradas as caruagens do correio. Ainda havia comboio-correio nesse tempo.
Vem isto a propósito das fotografias da ponte do comboio existente no Choupal e que está integrada na linha do Norte, da qual eu tinha de saber todas as estações, na escola primária (dessa e de todas as outras). Como costumo dizer, no final da 4ª classe estava pronto para ir trabalhar para qualquer bilheteira da CP, pois não havia estação de caminhos-de-ferros que eu não conhecesse.
Obrigado Professora Alice, por me ter exigido isso, pois permitiu-me treinar a memória e aumentar os meus conhecimentos geográficos, contribuindo para aquilo que sou hoje. A exigência nunca fez mal a ninguém.
Voltando à ponte, gostaria de chamar a atenção para algumas curiosidades presentes nas fotografias:
  • O facto de o nível médio das águas do Mondego ser superior ao actual, por ainda não ter sido construído o açude-ponte, que baixou o nível das águas a jusante, matando milhares de árvores no Choupal, por as raízes não conseguirem atingir a água devido à idade da maioria das árvores.
  • Na 1ª e 3ª fotografias são visíveis comboios puxados por locomotivas a vapor.
  • Na 2ª foto é visível um estudante de capa e batina com um chapéu de chuva aberto, em claro desrespeito pela praxe académica que, na altura, proibia o uso de de tal adereço.
  • Na 3ª foto é visível uma lavadeira na zona do Choupal (margem direita do rio) e ainda, ao fundo, a silhueta de Coimbra e da Universidade.
  • Ainda não tinham sido alteadas as margens do Mondego, o que tornava mais fácil o acesso ao rio, permitindo, com grande facilidade, tomar aí umas banhocas e posso garantir-vos que foram muitas.

Já agora, não posso deixar de agradecer a todos aqueles que visitaram este blogue e que possibilitaram que, na postagem anterior, tenha sido ultrapassado o número 10 000 de visitantes.

Parabéns a todos, com um especial enfoque para todos aqueles que aqui têm deixado os seus comentários, que constituem um estímulo para continuar.

Um grande BEM-HAJA para todos.

sábado, 10 de março de 2007

Pontes de Coimbra (Ponte de Santa Clara)





Em 30 de Outubro de 1954 é inaugurada uma nova ponte em Coimbra, a Ponte de Santa Clara. Esta ponte vinha sustituir a de ferro que existia a jusante da actual ponte e de que falámos no post anterior. Em relação à ponte anterior, apresentava 4 faixas de rodagem e iluminação. Ainda me lembro dos candeeiros aí presentes, bem como do triângulo, em parte relvado, no aceeso do Largo da Portagem.


Alguns factos curiosos:


  • Na primeira fotografia são visíveis as cofragens em madeira usadas na construção.

  • Nas 2ª e 3ª fotografias é vísivel a ponte antiga do lado direito (a jusante da actual ponte).

  • Na 2ª fotografia o acesso à ponte ainda está entaipado à espera que alguém viesse cortar a fita. Ainda não havia Estádio Universitário na margem sul, nem tinha, ainda, sido construída, à esquerda, a estrada que viria substituir a que passou a ser conhecida por antiga Nacional 1, que passa pelo Vale do Inferno.

  • Na 3ª fotografia é curioso ver o aglomerado de pessoas que se preparavam para assistir à inauguração da ponte, tendo por testemunha a estátua de Joaquim António de Aguiar, mais conhecido como o Mata-frades.

  • Nas 4ª 5ª 5fotografias vê-se mais uma vez a presença de um trolley-carro da linha 6, que servia Santa Clara. Avista-se, ainda, o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, visível também na 2ª imagem.

  • Na actualidade o último arco do lado de Santa Clara está partido, sendo isso visível quer a partir da margem esquerda, quer no passeio e piso da própria ponte.

terça-feira, 6 de março de 2007

Pontes de Coimbra - Ponte de ferro




A ponte presente nas imagens substituiu a Ponte do Ó, de que falámos no post anterior e que, devido ao assoreamento do rio, foi demolida pois já estava a funcionar como represa, causando problemas de segurança.
A Ponte de Ferros situava-se a jusante da ponte de Santa Clara - cerca de 20 metros - sendo ainda visíveis os seus pilares em pedra qundo o açude-ponte abre as suas comportas, provocando um abaixamento do nível das águas do rio.
Quando eu era catraio, costumava passar até aoquer restava do primeiro pilar da margem direita para aí pescar.
Como podemos ver os pilares eram de pedra e a ponte de metal. A sua largura era diminuta e, com o aumento do trânsito, tornou-se imperiosa a sua substituição pela actual ponte de Santa Clara.
Algumas curiosidades:
  • É visível, em duas fotografias, a presença de trolley-carros. Hoje, Coimbra é a unica cidade do país que mantém esse tipo de transporte, os Pantufinhas como lhes chamavam em tempos idos, por não fazerem barulho ao deslocar-se.
  • Na última foto é visível uma rampa, hoje inexistente (embora haja outras junto à estação dos caminhos-de-ferro), onde atracavam as barcas serranas que aqui deixavam a lenha e o sal, por exemplo, até começarem a ser sustituídas pelo comboio.
  • A presença da silhueta do edifício do Hotel Astória que aparece em duas das fotos.
  • O facto de não ser permitido entrar na cidade descalço, o que levava as mulheres da margem sul que vinham vender à praça, e que muitas vezes andavam descalças, a calçar as chinelas, a meio da ponte, para não serem multadas pela polícia.
  • Na primeira fotografia é visível o actual edifício do Governo Civil, em ruínas.
  • Quando foi desmantelada, parte desta ponte foi levada para Ceira, onde, ainda hoje, serve na travessia do rio Ceira, para acesso à Conraria.

sexta-feira, 2 de março de 2007

Pontes de Coimbra (Ponte do Ó)

Com base nas fotografias que estão em exposição no lado sul da Ponte Pedro e Inês, inicio, hoje, uma pequena incursão pelas pontes que fazem parte da história da nossa cidade.
Começo pela Ponte do Ó, assim designada pelo facto de possuir uma parte arredondada a meio que permitia que as caruagens se cruzassem, visto ser impossível no resto da ponte devido à sua exígua largura.
São ainda visíveis, na margem esquerda do rio o Convento de S, Francisco actual (futuro) Palácio dos Congressos e o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, ao cimo.
Este mosteiro veio substituir o antigo, devido ao facto do nível das águas do rio terem subido por causa do assoreamento provocado pelo corte das árvores, nas margens do Mondego (a lenha era importantíssima como fonte de aquecimento, para cozinhar e para a construção -andaimes-, sobretudo de Igrejas), que levou, aliás, à promulgação de legislação proibindo o seu abate.