domingo, 22 de fevereiro de 2009

Estórias de Montemor-o-Velho


Ontem, passei em Montemor-o-Velho e lembrei-me de 3 estórias relacionadas com essa vila e que partilho convosco:

Nos tempos conturbados da Reconquista, habitava no Castelo de Montemor um abade de nome João. O Abade tinha um familiar de nome Garcia Janes que se terá passado para a fé inimiga, ou seja, o islamismo. Em Córdova, o Califa local deu-lhe um exército enorme com o qual veio atacar Montemor-o-Velho. O Abade João e os soldados do Castelo defenderam-se como puderam mas, perante tantos inimigos, cedo se aperceberam que a resistência teria o tempo contado. Numa atitude desesperada, o Abade mandou degolar os velhos, as mulheres e as crianças para que ninguém caísse vivo nas mãos dos inimigos. Ele e os homens válidos saíram então pela porta principal do Castelo para morrer lutando com as armas nas mãos. Curiosamente, o ataque desesperado foi tão forte que o exército muçulmano foi completamente destroçado. Acontecera o impensável: os cristãos eram vencedores mas tinham ficado viúvos, sem pais e sem filhos. Voltaram então ao Castelo, em desespero, pedindo perdão a Deus pela sua atitude e por não terem acreditado na Sua força. Foi nessa altura que aconteceu o grande milagre: todos os degolados ressuscitaram e a vida retomou o seu curso normal. No entanto, todos eles ficaram com a cicatriz no pescoço para que o episódio não fosse esquecido. A lenda ainda não acaba aqui, uma vez que, depois desta vitória, resolveram perseguir o inimigo tendo morto mais de 70 mil mouros, até chegarem a um sítio onde o Abade João terá gritado "Cessa! Cessa", pois entendia que deveria acabar ali aquele ataque. Por isso, esse lugar recebeu o nome de Seiça e foi aí que o Abade João foi enterrado. Os milagres continuaram e chegaram a ser presenciados por D. Afonso Henriques que, muitos anos depois, pode verificar que as ossadas do Abade João mediam 11 palmos, ou seja, afinal o Abade era um gigante.

Uma tradição muito antiga diz-nos que, no fundo de uma cisterna do Castelo de Montemor-o-Velho, estão duas arcas iguais fechadas.
Conta-se que uma está cheia de ouro e outra cheia de peste.
Todas as pessoas que, até hoje, as encontraram não tiveram coragem de as arrombar, pois corriam o risco de abrir a da peste.
Actualmente, continuam bem escondidas.
Penso que esta lenda tem uma relação estreita com o Mondego, pois também o rio significa o ouro e a peste.
Às portas de Montemor vinham os fenícios comerciar (há vestígios junto ao monte de Santa Eulália), ou seja, chegava o ouro das trocas comerciais.
Mas o mesmo rio trazia as cheias com as desgraças habituais e toda uma série de doenças associadas à cultura do arroz como o tifo, a malária e o paludismo que dizimava as populações.
Por estes motivos se dizia que só trabalhava no arroz quem não tinha mais sítio nenhum onde trabalhar. Todos aqueles que podiam, fugiam do trabalho nos arrozais.
A partir do século XIX, com os avanços na Medicina e na Química tudo se alterou e essas doenças desapareceram do Baixo-Mondego.

Maiorca é uma povoação localizada na base do monte de S. Bento, na margem de uma ribeira que desagua no rio Foja.
A história que conta o seu nome é uma curiosidade etnográfica.
O nome teria surgido devido à rivalidade com a vila situada no lado oposto da planície aluvial do Mondego: Montemor.
Os habitantes de Montemor diziam que o seu monte era o maior (mor), ao que os de Maiorca retorquiam, dizendo: Maior é o de cá!
Entretanto, com o passar dos anos Montemor viu o seu nome aumentar para Montemo-o-Velho, quando a reconquista avançou para sul e foi conquistado um outro Montemor que, por ser terra recente, se passou a chamar Montemo-o-Novo.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Crise

Esta semana para ser original, vou falar da Crise.

Qual crise? - perguntarão os meus leitores, se é que ainda restam alguns.
A que por aí anda e que todos os dias nos entra casa dentro. São aos milhares os que vão para o desemprego, devido à ganância de uns tantos e, pelos vistos, ao facto daqueles a quem confiámos a supervisão do sistema, andarem a dormir ou, pelo menos, muito distraídos.
Como o Cristiano Ronaldo já não tem nada para ganhar este ano, não é possível aos noticiários fugir às notícias da crise e às inevitáveis reacções: as do governo que tudo faz para a resolver prometendo milhões e grandes obras; as da certa oposição que me fazem lembrar o bom Eça de Queiroz e a sua Campanha Alegre (olha para o que eu digo na oposição e não para o que faço quando estou no governo); as daqueles que pensam que, não tarda nada, vamos ter uma economia colectivizada e amanhãs que cantam e os outros que apenas conhecem a coluna das despesas, esquecendo-se que não se pode gastar o que se não tem, sobretudo se for em caviar.
Mas, sem sombra de dúvidas, o que mais me alegra é ver que, estando o país quase de mão estendida, quando milhares e milhares ficam sem emprego, saber que há quem se preocupe com questões fracturantes, para além dos ortopedistas que, como todos sabemos, são os que ocupam com essas coisas.
Nada como uma, duas ou mesmo três questões fracturantes.
Sem dúvida que perante uma crise como esta, o debate sobre o casamento homossexual é uma prioridade (atenção que nada tenho contra o dito cujo), bem como o debate sobre a eutanásia ou quanto às deduções ao IRS do senhor 1.º ministro.
Alíás ando muito contente porque, este ano, prometeram que as devoluções do IRS serão feitas mais cedo. Se não fosse o facto de esse dinheiro, que me vão devolver, ser meu, até era capaz de festejar.
Assim, não sei se ria se chore.
O jeito que dava Portugal ganhar o Festival da Eurovisão pois assim, pelo menos durante umas semanas, mudava o tom das notícias e nem nos lembrávamos mais da crise, excepto aqueles que já perderam os seus empregos e que estão por detrás dos números frios que todos os dias nos são debitados pelos mass media.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Porque hoje é Domingo...


É bom ter grandes causas embora, muitas vezes, não sejamos capazes de resolver as pequenas.
Com dizia alguém que ouvi numa conferência, é fácil amar os que estão do outro lado do mundo, mas nem sequer dar os bons dias ao vizinho. E depois, meio a brincar, acrescentava que todos amávamos a Princesa Diana, menos o marido que estava ao lado dela, para provar a sua 1.ª afirmação.
Este foi um dos temas abordados, na última semana, na minha turma do Secundário, a propósito das grandes questões ambientais.
Enquanto não formos capazes de resolver as pequenas causas, não vale a pena atirarmo-nos às grandes
Querer resolver os males do mundo, especialmente os que estão nos antípodas, é sinal que não pretendemos resolver nada.
O que me adianta ser contra um qualquer aterro sanitário, quando deito o lixo para o pátio da escola, ou deixo-o pelos corredores, na esperança secreta, que ele desapareça por si próprio?
Pode ser que para a semana haja alguma História ou Sabor das que por aqui estão habituados a encontrar. Pode ser!
Até lá.