domingo, 28 de janeiro de 2007

La Alberca - O Porco do Povo

Porco do povo - o descanso do guerreiro
O descanso continua (mal sabe o que o espera!)
Monumento ao porco ao lado da Igreja Paroquial
Vista da Plaza Mayor

Uma das tradições mais curiosas em La Alberca é a presença, nas ruas, de um porco preto que é conhecido como o porco do povo.
Na primeira visita, o dito cujo, andava pelo meio das mesas nas esplanadas da Plaza Mayor, comportando-se como um cão à espera que lhe fizessem festas, rebonado-se pelo chão, etc.
Perante o nosso espanto, foi-nos dito que o porco era propriedade comunitária, que era alimentado por toda a gente, mas que, como a boa vida não pode durar sempre, no dia 13 de Junho era morto. Nesse dia, todos os habitantes da aldeia matam o seu porco, sendo para isso concedida uma autorização especial pelas autoridades sanitárias.
Numa segunda visita (quando tirei as fotografias) o porco, que já era outro, estava a dormir quando chegámos e a dormir continuou quando viemos embora.
De referir que, junto ao adro da Igreja Paroquial da terra, existe um monumento ao porco mostrando a importância que ele tem para a comunidade e justificando a fama dos enchidos e presuntos da terra.
Aí está uma compra que vale a pena fazer, assim como o mel e umas espécie de pinhoadas.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

La Alberca



A proposta vai hoje para uma das mais bonitas povoações de Espanha, La Alberca, situada a 1087 metros de altitude, junto à Sierra de Francia, na província de Salamanca, a cerca de 60 Km de Vilar Formoso.
A recuperação desta aldeia bem podia servir de exemplo para o que se podia e devia fazer nas nossas aldeias: recuperação, sem casas tipo “maison”, e com gente dentro, pois La Alberca conserva quase mil habitantes permanentes.
Os mais antigos vestígios de povoação humana datam da Pré-história, existindo pinturas rupestres da época neolítica.
Na Idade Méida, entre os séculos XII e XIII, ocorreu a repovoação, por decisão do rei D. Afonso IX.
La Alberca e a região à sua volta foram repovoadas com muita gente de origem francesa que aqui tinha chegado com D. Raimundo de Borgonha, nobre francês casado com D. Urraca, tia de D. Afonso Henriques. Esta é a explicação para muito topónimos franceses existentes na zona da Sierra de Francia.
Hoje em dia, La Alberca vale uma visita demorada, pois está cheia de surpresas, sendo a principal a beleza da sua arquitectura tradicional, baseada na pedra e madeira, que fez com que fosse declarada monumento histórico e artístico e Património da Humanidade.
La Alberca surpreende porque a arquitectura predominante não seria suposto encontrá-la ali. Aquelas, são casas que poderíamos perfeitamente enquadrar na paisagem alsaciana, alemã ou suíça, mas não ali, em plena Sierra de Francia.
Ao percorrermos calmamente as ruas, encontramos, nos portais das casas, as datas da sua construção, bem como signos e anagramas religiosos que mostram, publicamente, a fé dos seus moradores.
Os pisos superiores são sempre mais salientes que os inferiores, contribuindo para que os telhados quase se toquem, produzindo um curioso jogo de luzes e sombras, que dá um ambiente único à aldeia.
Há quem diga que a estrutura urbana é a típica de uma judiaria, pelo intrincado labiríntico e secreto das suas ruas. Há, também, quem afirme, ao percorrer o povoado, que se parece com os arredores de Damasco, atribuindo-lhe assim influências árabes. Disto resulta que muitas das suas ruas apenas podem ser percorridas a pé.
Podemos, isso sim, afirmar que La Alberca resulta da junção, ao longo dos séculos, das culturas cristã, judaica e árabe.
Como último destaque, uma referência muito especial a Plaza Mayor, para a qual confluem as principias artérias da localidade. Nesta, merecem especial destaque as varandas cobertas de flores, suportadas por colunas de granito e as esplanadas pode se podem degustar umas excelentes Tapas e umas Cañas para acalmar a sede, se for caso disso.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Salamanca - Victor e Catedral

Victor
Victor

Praça em frente à Universidade e estátua de Frei Luís de Léon

Um aspecto curioso de Salamanca é o facto de as paredes junto à Universidade e no seu interior estarem cobertas de uns graffitis de cor avermelhada.
Eis a justificação:
Os estudantes de Salamanca, logo depois da fundação da Universidade (cerca de 1200) tinham aulas na Catedral Velha. No entanto, devida à grande afluência de estudantes à cidade e a falta de luz no interior da Catedral Velha devido ao estilo em que havia sido construída, o Românico, construiu-se uma nova Catedral, que demorou vários séculos a ser concluída, pelo que apresenta vários estilos arquitectónicos sendo de destacar a fachada em estilo plateresco.
Na hora dos exames, os que eram aprovados, e assim terminavam o curso, tinham de organizar uma festa de três dias com comidas e bebidas.
No terceiro dia tinha ainda lugar uma corrida de touros. O touro que era lidado tinha de ser morto pelo estudante aprovado que, com o sangue do animal misturado com azeite, desenhava a palavra Victor, com o seu nome e o título obtido.
Estão assim explicadas as pinturas que se vêem um pouco por todas as paredes da Universidade e na praça que fica em frente da fachada principal. Este costume ainda hoje continua em vigor, embora as pinturas agora se façam com tinta de cor avermelhada.
Quanto aos estudantes que chumbavam, saíam pela porta de serviço e eram apupados pelos seus companheiros, uma vez que assim não ia haver festa. Eram ainda levados para junto ao rio Tormes onde eram sujeitos a todo o tipo de vexações.
Se fosse hoje, logo haveria um plano de recuperação que permitia ao aluno passar milagrosamente, embora pudesse não saber nada, não fosse o rapaz ficar traumatizado e dar cabo das estatísticas do sucesso escolar, para eurocrata ver.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Salamanca - Frei Luís de Leon

Entrada da Universidade
Sala de aulas de Frei Luis de Leon

Este sacerdote, Frei Luís de Leon, insigne professor, dava aulas na Universidade de Salamanca, onde teve problemas com a Inquisição que o levou preso e assim o manteve, durante cinco anos, numa cadeia em Valladolid.
Quando foi libertado regressou à Universidade de Salamanca. O ser regresso causou grande surpresa e também muita curiosidade.
Assim, quando leccionou a primeira aula depois de libertado, a sala encheu-se, pois toda a gente queria saber o que ia dizer sobre os cinco anos de cárcere. Quando os alunos fizeram silêncio, Frei Luís tomou a palavra e, para espanto de todos os assistentes, disse:
“Vamos continuar a matéria no ponto em que a deixámos ontem”.
Quis, com isto, colocar uma pedra sobre os anos de prisão, fazendo como se eles nunca tivessem existido.
Três outros aspectos curiosos: A sala mantém-se na mesma, com uns bancos e umas mesas corridas extraordinariamente incómodas; Frei Luís permitia que os alunos pateassem nas aulas (o que era normalmente associado a desagrado) para que os alunos pudessem aquecer os pés e, por último, os alunos mais ricos eram geralmente os últimos a chegar, tendo os outros que lhes ceder o lugar (geralmente à frente). O objectivo era ter o banco quente, numa cidade onde, no Inverno, é comum chegar-se a temperaturas inferiores a 10 graus negativos.
Uma curiosidade: Podem procurar na primeira imagem (fachada da Universidade) a famosa rã, um dos símbolos de Salamanca. Acreditem ou não, ela está lá.

sábado, 13 de janeiro de 2007

O sexo dos anjos - esclarecimento

Putto
Transcrevo aqui o texto enviado pelo amigo Arqueólogo Moura e que nos ajuda a esclarecer a figura do anjo da Catedral de Salamanca.
A tal imagem que nos ajuda a encontrar o sexo dos anjos é a representação de um "putto".
Caso fossem mais seriam denominados de "putti" e que, em muitos casos, simbolizam pequenos anjos. São representados sempre como vieram ao mundo e normalmente sem asas.
Não aparecem figuras femininas pois, caso contrário, o nome teria de ser alterado e acabava por soar mal ao ouvido, ainda mais tratando-se de esculturas agregadas a um templo religioso...

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

O sexo dos Anjos - parte II

Anjo (?)
Monstro comendo um gelado
Astronauta
Lagostim
Em Salamanca julgo ter encontrado resposta a uma das perguntas que mais me tem atormentado ao longo da vida: Qual será o sexo dos anjos?
Com é fácil de constatar pela primeia fotografia têm, sendo que o fotografado é do sexo masculino. Caso não seja um anjo, não deve andar longe disso, pois está esculpido na Catedral de Salamanca.
Estas esculturas fazem parte do portal lateral da referida Catedral e datam do final século XX, aquando das obras de restauro que aí tiveram lugar.
Os responsáveis pelo restauro e os canteiros (palavra com a mesma origem da palavra Cantanhede) que executaram o trabalho decidiram deixar uma marca do século XX no portal, tendo optado por algumas imagens curiosas, entre as quais destaco um astronauta, um monstro a comer um gelado de cone e um lagostim... para além do referido anjo (menino).
Só uma pequena referência ao astronauta: muitas pessaoas acham que a escultura é da época da construção da Catedral, pensando que o seu autor seria um visionário, tipo Leonardo da Vinci, o que, aliás, por vezes se encontra escrito em alguns guias turísticos, mais isso não corresponde à verdade, como vimos.
Escolhi estas imagens, mas outras há distribuídas ao longo do referido portal.
Eis mais um motivo para viajar até Salamanca.
PS: Continuo à espera de resposta para a outra questão, sobre a qual se debruçou o próprio S. Tomás de Aquino, e que consiste em saber quantos anjos se podem sentar na cabeça de um alfinete.
Infelizmente, na Catedral, não havia imagens elucidativas sobre este assunto.

domingo, 7 de janeiro de 2007

O sexo dos anjos

Uma das perguntas que mais me tem inquietado ao longo da minha existência é a seguinte:
Qual será o sexo dos anjos?
A resposta encontrei-a em Salamanca, como não podia deixar de ser. (É sobre essas cidade que ando a escrever!)
A prova vai estrear, brevemente, no decurso da próxima postagem neste blogue, num computador com Internet perto de Si!

Nota: Depois de publicar a prova, fica agora por responder outra pergunta: Quantos anjos se poderão sentar na cabeça de um alfinete? Se alguém tiver a resposta, cá fico à espera.

Um abraço para todos e façam-me o favor de ser felizes!!!...

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Salamanca - Lunes de Aguas

Hornazo
Uma das mais curiosas estórias de Salamanca é a relacionada com a festa “Lunes de Aguas”, que se celebra a seguir ao Domingo de Pascoela e que punha fim à abstinência dos dois tipos de carne: a animal e a carnal.
A origem desta festa remonta ao tempo do Infante D. João, príncipe de Salamanca, filho dos reis Católicos, que concedeu autorização para a abertura de uma casa de prostitutas na cidade.
Nessa época, Salamanca fervilhava de estudantes universitários, coisa que ainda hoje acontece, pois aos 160 000 habitantes da cidade, somam-se 41 000 estudantes universitários.
Voltando à história, nessa altura, a prostituição era tolerada e estava mesmo regulada legalmente. Com tantos homens na cidade, os estudantes eram todos homens, não era de admirar que o número de prostitutas fosse grande.
Havia, no entanto, limitações legais à prática da prostituição: não podia ser exercida por mulheres naturais de Salamanca, nem por casadas, nem por mestiças.
Havia uma outra limitação imposta pela Igreja: na Quaresma as prostitutas deviam abandonar a cidade atravessando o rio Tormes para a margem esquerda. Essa viagem era supervisionada por um padre, para que tudo corresse bem, e era feita em silêncio.
Pelo contrário, no regresso, que ocorria na Segunda-feira (Lunes, em Espanhol), havia festa.
Os barcos, em que as prostitutas, acompanhadas por um padre a quem davam alcunha de Padre P****, atravessavam o rio Tormes, vinham enfeitados com ramos de flores (daí o nome rameiras) e eram recebidas com música e em grande festa pela população que as ia receber às margens do rio.
Hoje, a data continua a ser feriado e praticamente toda a cidade pára, saindo os seus habitantes para realizar piqueniques no campo, onde se come o tradicional Hornazo, espécie de empada com presunto, lombo e chouriço de porco, que servia para pôr fim à abstinência da Quaresma.
Dizem os salamantinos que Salamanca é a província dos porcos (no bom sentido, dizem eles!).
Uma expressão curiosa relacionada com esta estória é a que usam os salamantinos quando querem dizer que estão sem dinheiro: “Estou mais teso que uma p*** na Quaresma”.