quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Uma estória curiosa


Com o computador quase pronto, estou a despedir-me da publicação Best off.... Entramos, portanto, nas três últimas republicações. Hoje resolvi voltar à questão do Brasão da minha cidade, Coimbra.
O Brasão da nossa cidade representa uma mulher jovem coroada, como que a sair de um cálice, tendo do lado direito um leão de ouro e do lado esquerdo um dragão verde (no original).
Quando se pergunta à maioria dos conimbricenses quem é a donzela representada, não anda longe dos 100% as repostas afirmando tratar-se da Rainha Santa Isabel, Padroeira da cidade de Coimbra. Tal, porém, não corresponde à verdade.
Segundo uma lenda contada por Frei Bernardo de Brito, o emblema da cidade teria a seguinte explicação:
O rei bárbaro dos Alanos, Ataces, que usava na bandeira um leão dourado, veio, com o seu exército, e destruiu a cidade de Conímbriga, governada por Hermenerico, rei dos Suevos, que tinha como emblema a serpente verde. Depois disso, resolveu construir uma nova cidade nas margens do Mondego, a actual Coimbra. Hermenerico decidiu vingar-se e veio dar luta a Ataces, mas foi novamente vencido e, para obter a paz, consentiu no casamento da sua filha, a Princesa Cindazunda, com o antigo inimigo, Ataces. A história acaba assim com um casamento feliz, tendo Ataces oferecido à cidade nascente o brasão que ainda hoje se mantém.
O Brasão apresenta então, no meio a Princesa Cindazunda, o cálice simboliza o casamento, o leão dourado, o rei Ataces e o dragão verde, o rei Hermenerico.

As actuais armas da Cidade de Coimbra estão definidas pela Portaria nº 6959, de 14 de Novembro de 1930, que diz textualmente:
"Tendo em vista o parecer da Secção Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses e atendendo ao que representou a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Coimbra: manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Interior, que a constituição heráldica das armas daquele município seja a seguinte: "De vermelho com uma taça de ouro realçada de púrpura, acompanhada de uma serpe alada e um leão batalhantes, ambos de ouro e lampassados de púrpura. Em chefe um busto de mulher, coroada de ouro, vestida de púrpura e com manto de prata, acompanhada por dois escudetes antigos das quinas. Colar da Torre e Espada. Bandeira com um metro quadrado, quarteada de amarelo e de púrpura. Listel branco com letras pretas. Lança e haste de ouro."

Duas curiosidades à laia de conclusão
1ª- Na fachada da Câmara Municipal de Coimbra é possível ver o brasão com a particularidade de este se encontrar invertido, o leão à esquerda e o dragão à direita. Talvez seja por ter sido esculpido em Lisboa.
2ª - Com um brasão tão bonito, para quê gastar tanto dinheiro para arranjar outro símbolo, para determinados serviços camarários, que, como sabemos, depois de estudos apurados e de muito dinheiro dos contribuintes gasto, resultou numa circunferência cortada, que hoje se vê por aí nos autocarros dos serviços municipalizados e em tudo o que é documento camarário.
Haja paciência que, pelos vistos, dinheiro não falta.

A imagem com o brasão foi retirada do site:

10 comentários:

Al Cardoso disse...

Esta coisa de arranjar novos simbolos para os municipios portugueses, parece que e coisa que existe por todo o lado, no caso da sua cidade, o brazao parece que esta dentro da historia ou lenda referente a ela. No entanto noutros como o do meu municipio, que tem um cacho de uvas e quatro espigas de milho, nao so nao retratam o concelho actual como nao refletem nada da nossa rica historia, mas nestas coisas quem manda e a comissao de heraldica, nao e assim?
Ja agora sabe o meu amigo se os brazoes municipais podem ser alterados?

Um abraco serrano.

Anónimo disse...

Adoro lendas e fiquei a conhecer mais uma, obrigada. Abraço

foreveryoung disse...

As coisas que tu sabes!!...
Gostei da informação e concordo contigo nas tuas curiosidades à laia de conclusão!
Bjs

Fénix disse...

Não fazia ideia nenhuma desta história, mas também não podiam arranjar um nome menos estranho à princesa? Como é que é possível decorar um nome invulgar como este?


Um abraço.

Anónimo disse...

Ola, bonita história pois tb se me perguntaxem a mim certamente responderia Rainha ST. Isabel :D mas agora fikei a saber k n beijinhos...

p.s. o Incertos momentos tte um novo momento o destake da semana paxa la para saberes mais promenores kem sabe para a semana n es tu ;)

Teresa David disse...

O que mais me fascina neste seu blog é as coisas novas que vou aprendendo, e apesar de lhes chamar curiosidades, são importantes para a nossa cultura geral, e acabar com equivocos, logo, como já deve ter constatado tornei-me sua cliente.
Bom fim de semana que se avizinha e um abraço
TD

Teresa David disse...

Também o vou linkar no meu blog, que se torna mto mais facil as visitas que gosto de lhe fazer.
Quanto ás minhas malas, dir-lhe-ei que ao despejá-las como fiz efectivamente no chão, descobri que teria piada satisfazer a eterna curiosidade masculina sobre o conteúdo das malas das mulheres. Foi assim que nasceu o texto.
Obrigada pelas suas sempre simpaticas palavras.
Bjs
TD

Maria Carvalho disse...

Interessante. Gostei de saber.

Anónimo disse...

Enquanto anoitece neste dia outonal, passei por aqui na ânsia de ver, e vi, um blogue lindo, que faz muito tempo aprendi a apreciar pelas suas qualidades e bom gosto sempre presente. Por isso digo presente, e desejo um óptimo fim-de-semana. Um pequeno aparte: como heraldista, gostei imenso deste artigo, pois muito se escreveu sobre este brasão e a génese da sua lenda é magnífica: Ataces, rei dos Alanos, rei suevo Hermenerico, princesa Cindazunda. A mais antiga representação heráldica conhecida e de 1270 (mais ou menos, pois estou a citar de cabeça), e representa uma donzela coroada e com um manto, tendo à volta um resplendor. Essa figuração foi mudando com frequência e nos séculos XIII / XIV apresentam a donzela coroada, ladeada por dois escudos com as quinas de Portugal, e por baixo uma cobra, uma taça e uma flor. A introdução do leão é tardia, talvez do século XVI. Há quem diga – mais lendas – que o brasão é uma alegoria à ninfa Monda, donde veio o nome do rio Mondego, a par da lendária donzela Colimena, filha do rei de Córdova, que encarcerada pelo bárbaro Monderigon, foi do triste cativeiro libertada por uma serpe e um leão. Tenho uma página sobre heráldica de Paredes de Coura (HERÁLDICA DE COURA, http://heraldicadecoura.blogs.sapo.pt/), e por isso não trato de assuntos nacionais, mas a lenda da origem das armas de domínio de Coimbra sempre me fascinaram.

Anónimo disse...

O senhor anterior tem razão de que esta lenda de Ataces é apenas mais uma versão, mas foi a que mais longevidade alcançou. A versão do Monderigon vem de uma comédia de Gil Vicente (antes de Fr. Bernardo de Brito). A explicação da rainha Santa também existe (mulher = Rainha Santa; leão = Castelhanos; serpente = Portugueses; significando pacificação). Ataces e Cindazunda teriam tido filhos?