quinta-feira, 30 de novembro de 2006

1º de Dezembro

Posted by Picasa
Celebra-se, no dia 1 de Dezembro, o 366º aniversário da Restauração da Independência Nacional, depois de 60 anos de domínio filipino.
A turma do 6ºB do Caic resolveu, na Área de Projecto, escrever uma peça de Teatro subordinada a esse tema, à qual deu o nome de "Viagem no tempo" e na qual duas cientistas vão viajar numa nave espacial até ao passado, onde assistem a alguns episódios ocorridos nessa época.
Assim partilho convosco um excerto em que a nave aterra em Évora, em 1637, podendo as duas viajantes (Escanifreda e Andrioleta) assistir ao Motim de Évora, que ficou conhecido para a História como a Revolta do Manuelinho.
A brincar, mas também com muitas partes mais sérias, lá para Março, teremos a estreia Mundial deste texto dramático, na sala de teatro do Caic. Até lá ainda temos muito para ensaiar.
Então, aqui fica a cena 4. Espero que se divirtam.

Cena 4
(Saem da máquina e encontram uma manifestação)
(Entra em Palco, uma manifestação de meia dúzia de pessoas, cantando – com a música da canção "A Fisga" - e aclamando o Manuelinho).
Todos: Trago o Manelinho às costinhas
Nesta manifestação anti-espanhola
Vivó Manelinho, abaix’os filipinos
C’os espanhóis dão-nos cabo da carola.
C’os espanhóis dão-nos cabo da carola
Conquistemos a nossa independência
Estamos pobres, até pedimos esmola
Portugal é a nossa residência.
Manuela: Viva o rei Manuelinho!
Todos: Viva! Viva!
Maria: Abaixo a tortilha, os calhos e as natilhas! Viva a omeleta, as tripas à moda do Porto e o leite-creme!...
Todos: Viva! Viva!Constantino: Abaixo os espanhóis! Viva os portugueses!Todos: Abaixo! Abaixo! Viva! Viva!
Jesuíno: (com pronúncia alentejana e bocejando) Já estou ficando cansado. Vamos é ver se encontramos um chaparro, pois está quasi na hora da sesta. Viva a sesta! Abaixo o trabalho! Viva o descanso! Se o trabalho dá saúde que trabalhem os doentes! …
Todos: Queremos um chaparro! Queremos descansar! Queremos um chaparro! Queremos descansar!
Jesuíno: (Toma a palavra e discursa): Portugueses em geral, alentejanos em particular!
Todos: Apoiado! Apoiado! Muito bem!
Jesuíno: Nesta época de crise... em que os espanhóis nos levam todo o dinheiro que temos, há que votar em mim, - ó raio que já me enganei -, há que apoiar o Manuelinho! Viva o Manuelinho!Todos: Viva! Viva!
Zé Próvinho: Alguém falou em vinho? Se o assunto é esse cá estou eu! Abaixo o vinho espanhol! Viva o vinho do Alentejo!
Todos: Viva! Viva!
Maria: Lá está este outra vez a falar no vinho!
Constantino: Irra que ele só pensa mesmo no vinho. Em vez da cabeça devia ter um barril em cima dos ombros e uma torneira em vez do nariz. Maldito vinho.
Jesuíno: O vinho agora não interessa para nada! O que interessa é o chaparro. Viva o chaparro!
Todos: Viva! Viva!
Manuela: Vamos é comer uns pezinhos de coentrada.
Maria: Com a entrada adondi ?
Manuela: Não é com a entrada. É de coentrada!
Maria: Entã nã foi isso quê disse? Com a entrada. Mas onde é que fica a entrada?
Constantino: Vossemecê deve estar ficando surda.
Maria: Curda? Então esses são os do Iraqui.
Constantino: Irra. Surda! Não é curda.
Maria: Entã vossemecês se explicam…
Manuela: Vamos é apoiar o Manuelinho e deixemo-nos destas conversas de treta.
Maria: Preta? Quem é qué preta?
Manuela: Treta, mulher, treta.Maria: Já ouvi. Eu sou surda. Escusa de estar aos berros quê já ouvi qué preta. Não sei o qué qué preta, mas já ouvi.
Constantino: Não há pachorra.
Maria: Onde é que está a cachorra. Ai que eu gosto nada de cães e muito menos de coas ou cãs. Ai quê nem sei como é que se diz.
Manuela: (aos gritos) Cadelas. O feminino de cães é cadelas!
Maria: Panelas? P’ra quê? Vamos comer? E se fosse uns pezinhos de coentrada.
Manuela: Ora voltámos ao princípio. Viva os pezinhos de coentrada.
Todos: Viva! Viva!
Manuelinho: Viva eu! Viva eu!
Todos: Apoiado! Apoiado! Viva ele, viva ele!
(Dirigem-se para fora do palco a bocejar e a cantar a música de entrada)
Escanifreda: Bem isto está tudo visto! Vamos embora, pois já estou cheia de sono! Acorda!
Andrioleta (Estava a dormir): O quê? Onde estou eu? O que se passa?
Escanifreda: Vamos embora! Vamos até à casa de D. Jorge de Melo.
Andrioleta: Quem é o D. Jorge de Melo?
Escanifreda: É um dos nobres que está a conspirar para expulsar os espanhóis de Portugal.
(Entram na máquina e muda a cena)

7 comentários:

Rosmaninho disse...

Claro que me diverti com a cena 4!
"A brincar também se aprende"!

Texto dramático com muito humor! A música foi bem escolhida!

E...os espanhóis continuam a "invadir-nos" e...os "manuelinhos", desta vez, não estão a revoltar-se(parece-me).

~*Um beijo*~

Kalinka disse...

E...VIVA o vinho do Alentejo!!!
e...Viva os pezinhos de coentrada!!!
Abaixo os espanhóis em tudo.

Bom fim de semana XXL.

Anónimo disse...

E com "História e Sabores" também viajámos no tempo, com esta reconstituição teatral, da qual ficámos a aguardar a estreia,pois o aperitivo foi saboros. Bom fim-de-semana, caro Tozé.

Teresa David disse...

Achei uma delicia a cena aqui transcrita, mas confesso o meu pecado e não sou prezo Portugal por demais, pois vejo desde que nasci Espanha a crescer e nós a minguarmos cada vez mais em relação a eles, no que concerne á cultura, económia, saúde e por aí fora, num desenrolar de inferioridades que nunca mais acaba.
Um abraço
TD

carlos ponte disse...

Tozé, espero que haja uns pezinhos de coentrada para depois da estreia.
Um abraço,
Carlos Ponte

redonda disse...

Gostei muito do texto :):)mas que nomes estranhos têm as duas últimas personagens Escanifreda e Andrioleta. São inventados ou existem mesmo?

Anónimo disse...

Oi é a 3ª vez que encontrei o teu blogue e adorei tanto!Espectacular Trabalho!
Até à próxima