quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Os Filhos da República

Há uns tempos, estive num congressso sobre educação onde ouvi algo que me deixou preplexo: um deputado da nossa praça falou sobre a importância da escola pública na educação dos "Filhos da República". Ouvi a expressão com curiosidade mas, quando me debrucei sobre o assunto, não pude deixar de ficar preocupado.
Em primeiro lugar porque desconhecia por completo que a República tivesse filhos. Sempre me habituei a vê-la como uma representação de uma senhora (Mariana), copiada da Marianne francesa, surgida com a Revolução de 1789. Sendo uma obra de arte, parece-me difícil ter tido filhos, mas como nunca tive Educação Sexual na Escola, admito que algo me tenha escapado. Tempos houve em que alguém, num ataque de nacionalismo certamente, propôs substituir o busto da Mariana pelo de Amália, ou outro mais dado às coisas do futebol, queria o do Eusébio. Como explicar aos filhos tal mudança de fisonomia ou mesmo de sexo da sua progenitora?
Em segundo lugar, mais preocupado fiquei quando, de pensamento em pensamento, descobri que a minha filha, afinal não era minha filha, nem da minha esposa, pois era filha da República. De um momento para o outro vi-me sem filha sem ser precisa qualquer ordem de um Tribunal de Família.
Em terceiro lugar, e ainda mais esquisito, conheço uns casais que são monárquicos e que, de repente, descobriram que os filhos, que também perfilham das ideias monárquicas dos pais, são, afinal, filhos da República. Ele há cada fenómeno. Aliás, acho que a República deve andar preocupada pois falhou na educação de alguns dos seus filhos. Já o meu pai, às vezes. dá mostras de um desgosto semelhante, pois ainda não sabe onde é que falhou na minha educação, uma vez que, sendo ele benfiquista, eu saí portista.
Eu quero acreditar que deve ser do sol na moleirinha, pois eu próprio, que não acredito no Pai Natal há muitos anos, nunca me passaria pela cabeça acreditar que a Mariana, a nossa República, tivesse filhos.
Os filhos são do Manuel, da Maria, do João, da Paula, do Álvaro, da Ana (etc) e não da República. Esta ideia, típica de um esquerdismo que julgava parte do passado, de que os filhos são do Estado causa-me uma certa impressão, especialmente a mim que sempre fiz questão de zelar pela educação da minha.

DECLARAÇÃO DE INTERESSES: Sou, e sempre fui, republicano.

3 comentários:

aminhapele disse...

Está a treinar para "gato fedorento"?!

R o c K disse...

Muito perspicaz o 'post' e com bastante humor. Os meus sinceros pêsames pela má notícia e consequente "perda da sua filha". Está visto que as nossas elites cada vez nos tiram mais, agora até os filhos nos tiram. Meu Deus!

Quanto ao seu pai, vê-se que tem bom gosto desportivo.Até eu ficaria desiludido e desgostoso por ter um filho portista. Mas enfim, nem todos podem ter bom gosto culinário e serem benfiquistas, há sempre qualquer coisa que falha numa boa educação à portuguesa.

Abraço,
João Roque

Anónimo disse...

Essa res publica é mesmo uma mãe!
Abraços.