quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Porque é importante não esquecer...

As cornucópias da Pastelaria Alcôa, em Alcobaça.
O edifício do antigo Hospital Termal das Caldas da Rainha.
As primeiras palavras depois de visitar o Parlatório.
Na ala das celas, ouvindo falar da alimentação.
Edifício onde estava a "solitária"
A "solitária" de onde aconteceu a fuga de 1954.
Local da muralha, onde Dias Lourenço saltou para a água, a 17 de Dezembro de 1954.Conferência onde, no final, respondeu às perguntas colocadas

O grupo com Dias Lourenço (todos menos eu).

Dia 19 de Fevereiro foi dia de visita de estudo.
Um grupo de alunos do 12.º ano, no âmbito da Área de Projecto, organizou uma Visita de Estudo ao Forte-Prisão de Peniche, onde pudemos acompanhar as explicações de Dias Lourenço, que nos relatou o dia a dia da prisão, a actuação da PIDE e a maneira como fugiu, e depois organizou a fuga de Álvaro Cunhal e de mais 9 companheiros, da mesma prisão, a 3 de Janeiro de 1960.
Saímos, então, pelas 8.30 horas da manhã e fizemos uma 1.ª paragem em Alcobaça para reconfortar o estômago com uma Cornucópia e outras iguarias da Pastelaria Alcôa, situada em frente ao Mosteiro e que tão bem honra a doçaria conventual.
Daí rumámos às Caldas da Rainha onde visitámos o Museu José Malhoa, ou melhor, a exposição temporária (o Museu está em obras), onde vimos obras de um dos mais importantes pintores naturalistas portugueses, José Malhoa.
Passado o almoço, rumámos a Peniche para o prato forte: a visita ao Forte-Prisão, acompanhados por Dias Lourenço, que já aí se encontrava à nossa espera.
Percorremos o Forte, onde nos foi relatando, na 1.ª pessao, o que era ser preso político, o que era ser torturado pelos agentes da PIDE a fim de obter informações, como foi a fuga que encetou no dia 17 de Dezembro de 1954.
Dias Lourenço fugiu do Forte de Peniche, durante a noite, às duas da madrugada, depois de estudar as rondas dos guardas e desfiar um cobertor para o transformar em corda. Curioso é que a fuga implicou uma provocação aos guardas, alguns dias antes, a fim de ser condenado à solitária, sítio de onde seria mais fácil fugir.
Tendo levado uma faca escondida, acabou por cortar um pedaço da porta, tendo fugido no dia 17 de Dezembro de 1954. Como se enganou na hora das marés, acabou a nadar durante hora e meia até atingir a praia. Isto em plenó mês de Dezembro...
Aí chegado, teve a sorte de contar com a solidariedade de populares que o ajudaram a fugir numa camioneta de peixe até Torres Vedras.
Dias Lourenço esteve privado da liberdade no Forte de Peniche nos períodos entre 1949 e 1954 e 1962 a 1974, num total de 17 anos, por pertencer ao PCP.
Hoje, com 93 anos, continua com o espírito vivo e sempre pronto a relatar o que passou, porque é importante não esquecer a ditadura que existiu em Portugal, antes de Abril.
Concordemos ou não com as suas ideias políticas, uma coisa é evidente, a luta por aquilo que considerava serem os seus ideais, a maneira como se empenhou na sua defesa e o que sofreu, merecem a nossa admiração e agradecimento, pois essa luta foi importante para a queda do regime ditatorial existente em Portugal.
Costuma dizer-se que "Um povo sem História é um povo sem futuro".
Por isso é importante recordar, porque a liberdade é difícil de alcançar e, apesar de todos os defeitos que a nossa democracia possa ter, é bom que nos recordemos que "A democracia é o pior regime político, tirando todos os outros."

37 comentários:

Maria disse...

Quando vi o post anterior sobre Coimbra pensei "o Tozé nunca mais colocou aqui fotos de petiscos".
Imaginas a minha cara quando abri o blogue e dou de caras com as cornucópias....
Muito bem, andaram pelas minhas zonas, na minha cidade (termal, sim) e finalmente surpreendi-me com a visita ao forte de Peniche.
Não vou lá muitas vezes porque me emociono sempre. Da última vez que lá fui (e não fui à solitária porque me angustia mesmo) estava também o Dias Lourenço a contar, mais uma vez, toda a História das prisões e fugas de Peniche.
É bom que a gente jovem saiba que existiu o fascismo em Portugal, com todas as suas características.
Para que não se apague a Memória colectiva do nosso Povo.
Para que NUNCA MAIS!

Obrigada, Tozé.
Abraço

ManuelNeves disse...

Viva!

Comove-me sempre ouvir Zeca Afonso. Comove-me PROFESSORES(sim, com letra grande), que não ficam pelas páginas dos livros e com o seu empenho levam os seus alunos aos locais onde a História se faz.
Comove-me que tenha ido ao forte de Peniche com jovens que agora despertam para outras realidades e dár-lhes a perceber que Portugal nem sempre foi a Democracia dos dias de hoje. Que há muito pouco tempo atrás houve tortura, escuridão, fome, morte e foi aqui! Nao foi no Iraque!...

Estou comovido e agradecido, PROFESSOR TOZÉ.

Um Abraço

Anónimo disse...

Quem é livre, é-o sempre! Abraço!

Pitanga Doce disse...

Este doces em Viseu chamam-se caramujos e são muuuito bons.

Vai ao Pitanga que agora é "SÓ PARA MENINOS"

despertando disse...

Fiquei comovida, assim como todas as vezes que passeio por Peniche e dou um saltinho ao forte.

Menina do mar disse...

Fotos que me são bastante familiares não sei porquê...
Logo hoje que passei por cá fui surpresa com imagens da minha terra!
Sou filha de Peniche e professora também e fico muito comovida pela beleza dessa aula! Parabéns

Tozé Franco disse...

Olá Maria.
É importante não esquecer
Eu tento fazer a minha parte
Um abraço.

Tozé Franco disse...

Caro Manul Neves:
Obrigado pela palavras simpáticas. Apenas faço aquilo que acho que devo fazer.
Um abraço.

Tozé Franco disse...

Olá Rato do Campo.
Sem dúvida, embora, por vezes, haja quem queira que não sejamos livres.
Um abraço.

Tozé Franco disse...

Olá Pitanga!
Caramujos, cornucópias, tanto me faz. O importante é comê-los
Um abraço.

Tozé Franco disse...

Olá Despertando
E bom quando nos comovemos. É sinal que sentimos.
Um abraço.

Tozé Franco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tozé Franco disse...

Olá Menina do Mar.
Encanta-me Peniche e o Baleal que, para mim, é uma das mais bonitas prais do país.
Um abraço.

Codinome Beija-Flor disse...

Ah! Tozé,
Só peço pra DEUS não me deixar morrer antes de viajar para os lugares que vc nos mostra aqui.
Lindo post.
Abraços

a d´almeida nunes disse...

"A democracia é o pior regime político, tirando todos os outros."

Sem dúvida, Tozé.
O ideal seria conseguirmos viver em anarquia. Infelizmente está demonstrado à saciedade que o Homem é uma besta que não consegue governar-se em sociedade, se não tiver alguém que lhe trace o rumo e os limites da sua actuação.
Depois, é o que se vê. As elites dominantes passam a dominadoras, num ápice (dêem-lhes maiorias absolutas e depois é o que se vê).
Também concordo que é fundamental educar no sentido duma maior intervenção cívica de todos nós. Não podemos deixar que decidam a seu bel-prazer sobre o nosso futuro, muito principalmente, quando se nota à légua, que os mais fracos é que pagam a factura daquilo de que não usufruiram sequer.
Um abraço
António

aminhapele disse...

Excelente "aula"!
Para mim,leitor de notícias,fez-me confusão que essa seja "ÁREA DE PROJECTO".
As notícias que tenho lido são,na genaralidade maldizentes de tal "coisa" e até já li propostas para se acabar com "isso"!
Afinal "isso" é necessário e importante!
Obrigado Tozé!

Tozé Franco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tozé Franco disse...

Olá Beija-flor!
Eu também ainda não perdi a esperança de ir ao Brasil, pois acredito que muita coisa bonita há aí para ver.
Um abraço.

Tozé Franco disse...

Caro António:
Eu sinto-me, muitas vezes, a fazer o papel de mexilhão.
Um abraço.

Tozé Franco disse...

Caro Aminhapele:
As áreas de projecto dependem muito da dinâmica que se lhes atribui. De qualquer maneira, não sou eu o professor de área de projecto dos alunos. Limitei-me a dar a minha colaboração na organização da visita a pedido dos alunos que a pensaram.
Um abraço.

A Professorinha disse...

Aquela foto do antigo hospital está espectacular!

Já tenho saudades duma boa visita de estudo... mas cancelaram aquela a que eu ia...

Fica bem

Tozé Franco disse...

Olá Professorinha.
Felizmente, desse aspecto, não me posso queixar.
Um abraço.

Oris disse...

Quando abri o blogue fiquei logo com água na boca...CORNUCÓPIAS....hummmm....uma delícia!!!

Mas continuei a ler e quero dar-te os parabéns pelo post e pela viagem de estudo. Excelente maneira de dar a conhecer aos jovens o "outro lado".
Foi bom ter como música de fundo Zeca...

Bom fim-de-semana.
Beijitos

Farinho disse...

Eu já provei as cornucopias, são deliciosas.

Bonitas fotos.

Beijos

Tozé Franco disse...

Olá Oris.
Foi um dia em cheio, tanto para a barriga como para o espírito.
Um abraço e bom Domingo.

Tozé Franco disse...

Olá Farinho
Não podemos abusar por causa do fígado.
Um abraço.

Isabel Magalhães disse...

Caro Tozé Franco;

Excelente post. Começa por nos abrir o apetite e depois dá-nos uma sinopse de um período negro da nossa História que não podemos/devemos esquecer. Gostaria apenas de referir que os presos políticos do Forte de Peniche não eram todos do PCP. O meu sogro esteve preso em Peniche, - era um republicano liberal opositor ao regime de Salazar - foi depois levado para Cabo Verde e finalmente foi deportado para Timor. Era oficial do exército, perdeu a patente e foi afastado. Acabaria por ser reintegrado, com o posto de coronel, ainda em vida do ditador Salazar.

'A democracia não é um sistema perfeito mas até à data ainda não se encontrou outro melhor'.

Um abraço.

I.

Tozé Franco disse...

Olá Isabel! Bem aparecida.
Sem dúvidas que muitos presos não eram do PCP.
O meu avô esteve preso em Caxias e nunca pertenceu ao PCP.
No entanto, no caso do Dias Lourenço, a prisão deve-se ao facto de pertencer ao aparelho do PCP.
Quanto às cornucópias, só provando, porque quaiquer palavras saberiam pouco.
Um abraço.

disse...

Parabéns pelo teu magnifico trabalho com os teus alunos. Obrigada pela partilha.
Um abraço

Tozé Franco disse...

Cara Teresa:
Obrigado pelo incentivo. Vou fazendo o que posso e acredite que com muito gosto, apesar das dificuldades que sente quem está no ensino.
Um abraço

Tozé Franco disse...

Caro Templo do Giraldo:
Já visitei o su blogue e gostei do que li.
Tenho pena que não comente também os blogues por onde passa.
Um abraço.

Fê Costta disse...

As fotos estão lindas!! :)

Pura nostalgia!

Bjs

Tozé Franco disse...

Olá World Soul:
A máuina fotográfica não é grande coisa. Faz-se o que se pode.
Um abraço.

Chanesco disse...

Caro Tozé

Visitas destas são liçoes de vida para a juventude de hoje.

Um abraço

Anónimo disse...

Peço desculpa pela demora em comentar,mas o que conta é a intenção e não a brevidade..

Devo dizer que foi, salvo erro, a 5ª vez que fui ao forte de Peniche e seguramente a mais sentida.O Sr.Dia Lourenço e' uma liçao de vida, de preserverança.

Quanto ao museu José Malhoa, espero por ver a exposiçao permanente no museu "itself", porque apesar do grande pintor que foi,aquele espaço e provavelmente a guia,não fazem jus ao seu trabalho.

Obrigada !

Alexandra Garcia 12CH

Tozé Franco disse...

Caro Chanesco:
Tento que os meus alunos tenham auldas de História Viva. Penso que este foi um dos casos.
Um abraço.

Tozé Franco disse...

Cara ALexandra:
Depois de uma prolongada ausência bem vinda a este espaço.
Fico satisfeito por te ver escrever que esta foi a vez mais sentida.
É bom sinal.
Um abraço.